segunda-feira, 2 de julho de 2012

MICROSCOPIA DO MESENCÉFALO

TECTO DO MESENCÉFALO

O tecto do mesencéfalo é constituído de quatro eminências, os colículos superiores e os colículos inferiores, além da área pré-tectal. 

COLÍCULO SUPERIOR

Nos vertebrados inferiores, onde não existe um córtex cerebral, o colículo superior é o principal centro visual, sendo chamado de teto óptico. Nos vertebrados superiores, inclusive nos humanos, o colículo superior é um centro reflexo para os reflexos motores somáticos em resposta a estímulos visuais, auditivos e somatossensoriais.

Axônios das células ganglionares que dirigem-se ao mesencéfalo vão através do trato óptico cursando pelo braço do colículo superior. A zona mesencefálica principal para os axônios terminais das células ganglionares é justamente o colículo superior. Este é laminado e consiste de sete estratos de axônios e corpos celulares alternados. A informação visual é processada nos três estratos dorsais. A primeira camada (1) recebe projeção retiniana direta de axônios no braço do colículo superior, as camadas 2 e 3 recebem influxo indireto da camada 1, via interneurônios e de projeção descendente do córtex visual primário. As quatro camadas ventrais recebem informação auditiva e sensorial somática, somando-se às projeções de outras origens. O feixe espino-tectal – um componente do sistema anterolateral – carrega informação sensorial somática ao colículo superior.

O colículo superior auxilia na orientação dos olhos e da cabeça aos estímulos evidentes no ambiente. Ele associa a combinação de informações sensoriais de diferentes modalidades em uma única via: as representações de sensibilidade somática e informação auditiva em estratos coliculares profundos aliam-se à representação visual em camadas superficiais de acordo com um mapa espacial do mundo externo.

O colículo superior influi também no controle dos músculos dos olhos e pescoço. Existem duas projeções maiores, uma na região da formação reticular, que controla o movimento vertical ou horizontal dos olhos, e a outra na medula espinhal cervical para o controle dos músculos do pescoço.

Os sistemas neurais para a função visuomotora e percepção visual convergem ao córtex cerebral. Certos neurônios do colículo superior têm axônios que ascendem aos núcleos lateral posterior e pulvinar do tálamo. Esses neurônios talâmicos projetam-se primeiramente em áreas visuais mais superiores e áreas de associação dos lobos parietal, temporal e occipital. Uma função desta projeção ascendente do colículo superior pode ser informar áreas corticais importantes para a percepção da visão sobre a velocidade e direção dos movimentos dos olhos.

ÁREA PRÉ-TECTAL

O outro local que recebe influxos retinianos é a área pré-tectal. Esta é composta por cinco núcleos distintos e está associada aos reflexos visuais autonômicos, em particular, com os reflexos pupilares à luz e com o reflexo de acomodação. Os neurônios da área pré-tectal se projetam bilateralmente para o núcleo de Edinger Westphal, pré-ganglionar parassimpático , do complexo oculomotor (III par). Fibras pré-ganglionares do núcleo de Edinger Westphal saem do tronco encefálico junto com as fibras motoras somáticas do nervo oculomotor fazendo sinapse com os neurônios pós-ganglionares parassimpáticos do gânglio ciliar. Essas fibras pós ganglionares inervam os músculos constrictores da pupila.

COLÍCULO INFERIOR

O colículo inferior é constituído de uma massa cinzenta que contém três núcleos principais. O núcleo central (1) é o núcleo principal de retransmissão de impulsos auditivos do colículo inferior, possui estrutura laminar e uma organização tonotópica precisa. Seus axônios se projetam para a porção laminada do núcleo geniculado medial que, por sua vez, se projeta ao córtex auditivo primário ( área 41). O núcleo externo (2) e o córtex dorsal (3) do colículo inferior lançam projeções para regiões não laminadas do núcleo geniculado medial que, então, se projeta às áreas auditivas altamente especializadas.

O núcleo central recebe informações convergentes oriundas de três fontes: (1) de vias que se originam do núcleo olivar superior ipsi e contralateral, (2) de axônios ipsi e contralaterais do núcleo do lemnisco lateral e (3) de vias diretas dos núcleos cocleares dorsal e posteroventral contralaterais. Todos os axônios que se projetam no núcleo central do colículo inferior oriundos do bulbo e da ponte estão localizados no lemnisco lateral. Algumas fibras cruzam de um colículo para o outro formando a comissura dos colículos inferiores. As funções desses núcleos são processar sons para a percepção auditiva e reflexos de ajustes, tais como as respostas devido a um susto de origem acústica.

Os neurônios presentes em cada lâmina do núcleo central possuem sensibilidade máxima às freqüências de tons similares. Neurônios distribuídos em lâminas e terminais pré-sinápticos de fibras auditivas ascendentes são as bases estruturais para a organização tonotópica nos núcleos centrais.

O colículo inferior projeta-se para o tálamo através de um trato que está localizado justamente abaixo da superfície dorsal do mesencéfalo, denominado braço do colículo inferior. Tão diferentes como os colículos superior e inferior são também os seus braços. O braço do colículo superior traz informações aferentes ao colículo superior; já o braço do colículo inferior é uma via eferente que abriga axônios originados no colículo inferior e que se dirigem ao núcleo geniculado medial.

PEDÚNCULO CEREBRAL

BASE DO PEDÚNCULO CEREBRAL

A base do pedúnculo é formada pelas fibras descendentes dos tratos córtico-espinhal, córtico-nuclear e córtico-pontino, que formam um conjunto compacto. Estas fibras têm localizações precisas na base do pedúnculo cerebral, sabendo-se inclusive a localização das fibras córtico-espinhais responsáveis pela motricidade de cada parte do corpo. 

TEGMENTO DO MESENCÉFALO

O tegmento do mesencéfalo é uma continuação do tegmento da ponte. Como este, apresenta, além da formação reticular, substância cinzenta e substância branca.

SUBSTÂNCIA CINZENTA HOMÓLOGA (NÚCLEOS DOS PARES ENCEFÁLICOS)

 Três núcleos são encontrados no tegmento do mesencéfalo: os núcleos dos pares encefálicos III e IV, e o núcleo do tracto mesencefálico do V par.

O núcleo mesencefálico do V par encefálico não é um núcleo verdadeiro; ele é desprovido de sinapses e contém os corpos celulares de neurônios sensoriais primários, pseudo-unipolares, deslocados. Eles se estendem rostralmente do ponto de entrada do nervo trigêmeo até o nível dos núcleos oculomotores e colículos superiores do mesencéfalo. Esse núcleo e o trato de fibras a ele associado situam-se ao longo da margem lateral da substância cinzenta periaqueductal. Muitos dos processos periféricos dos neurônios do núcleo mesencefálico saem juntamente com a raiz motora do nervo trigêmeo e acompanham os ramos motores para os músculos mastigatórios onde terminam em fusos musculares e outros receptores proprioceptivos. Os processos centrais desses neurônios fazem projeção para o núcleo sensorial principal do V par e para o núcleo motor do mesmo par encefálico, este último para conexões reflexas com os neurônios motores.

O núcleo do nervo troclear (IV par) situa-se ao nível do colículo inferior, em posição imediatamente ventral à substância cinzenta central, e dorsal ao fascículo longitudinal medial. Suas fibras saem da face dorsal, contornam a substância cinzenta central, cruzam com as do lado oposto e emergem do véu medular superior, caudalmente ao colículo inferior. Este nervo apresenta, então, duas peculiaridades: suas fibras são as únicas que saem da face dorsal do tronco encefálico e trata-se do único nervo cujas fibras decussam antes de emergirem do sistema nervoso central. Este nervo inerva o músculo oblíquo superior.

O núcleo do nervo oculomotor (III par) localiza-se ao nível do colículo superior e aparece nos cortes transversais com a forma de V, estando intimamente relacionado com o fascículo longitudinal medial. O complexo oculomotor pode ser dividido funcionalmente em uma parte somática e outra visceral. A parte somática contém os neurônios motores responsáveis pela inervação dos músculos reto superior, reto inferior, reto medial e levantador das pálpebras. Esta parte é constituída de vários subnúcleos. Cada um deles destina fibras motoras para inervação de um dos músculos acima mencionados. Essas fibras emergem na fossa interpeduncular, constituindo o nervo oculomotor. A parte visceral do nervo oculomotor é chamada de núcleo de Edinger Westphal, que contém os neurônios pré-ganglionares cujas fibras fazem sinapse no gânglio ciliar e estão relacionadas com a inervação do músculo ciliar e músculo esfíncter da pupila. Pertencentes ao parassimpático craniano, essas fibras são muito importantes para o controle reflexo do diâmetro da pupila em resposta a diferentes intensidades de luz.

SUBSTÂNCIA CINZENTA PRÓPRIA DO MESENCÉFALO

NÚCLEO RUBRO

Estruturalmente, o núcleo rubro divide-se em uma parte parvicelular, que contém neurônios pequenos, e outra magnocelular, que contém neurônios grandes, sendo esta última pouco desenvolvida nos primatas e no homem. O núcleo rubro participa do controle da motricidade somática. Recebe fibras do cerebelo e das áreas motoras do córtex cerebral. Dá origem ao tracto rubro-espinhal, através do qual influencia os neurônios motores da medula, responsáveis pela inervação da musculatura distal dos membros. Este núcleo liga-se também ao complexo olivar inferior, através das fibras rubro-olivares, integrando o circuito rubro-olivo-cerebelar.

SUBSTÂNCIA NEGRA

A substância negra pode ser dividida em duas partes. Uma parte reticulada, localizada adjacente à base do pedúnculo e que contém GABA (neurotransmissor inibitório). Esta parte projeta-se para o colículo superior. A outra divisão da substância negra é a parte compacta, que consiste de neurônios contendo dopamina. A projeção destes neurônios para o estriatum forma o tracto nigro-estriatal. Estes neurônios têm uma função de pivô no controle dos movimentos. Esta parte compacta recebe projeção da amígdala, que está envolvida na motivação e emoções, e da formação reticular que está envolvida no despertar.

NÚCLEO DORSAL DA RAFE

Está localizado no mesencéfalo caudal e dá origem à projeção serotoninérgica do estriatum. Além disso, ele tem extensas projeções para a maioria do córtex cerebral e outros núcleos do encéfalo anterior.

SUBSTÂNCIA BRANCA 

É formada por fibras longitudinais e transversais. As longitudinais se dividem em descendentes, ascendentes e de associação. As descendentes são: tractos córtico-espinhal, córtico-nuclear, córtico-pontino, tecto-espinhal e rubro-espinhal. As ascendentes são: os lemniscos medial, lateral, espinhal e trigeminal; o pedúnculo cerebelar superior; o braço do colículo superior e o braço do colículo inferior. A de associação é o fascículo longitudinal medial. Já as fibras transversais consiste na decussação do pedúnculo cerebelar superior e na comissura do colículo inferior.

CORRELAÇÃO ANATOMOCLÍNICA

DOENÇA DE PARKINSON

A Doença de Parkinson (DP) na sua forma típica inicia-se de forma insidiosa, geralmente após os 50 anos de idade. Em 70-80% dos casos a manifestação inicial é o tremor de repouso unilateral, habitualmente em território distal do membro superior. Na evolução que é gradativa sobrevêem a acinesia e a rigidez. Também conhecida como paralisia agitante, a DP resulta da destruição extensa da substância negra, a parte compacta, que envia fibras nervosas secretoras de dopamina para o striatum (caudado e putâmen).

As causas desses efeitos motores anormais são quase que inteiramente desconhecidas. Entretanto, se a dopamina secretada no núcleo caudado e no putâmen funciona como um transmissor inibitório, então a destruição dos neurônios dopaminérgicos na substância negra teoricamente permitiria que o caudado e o putâmen se tornassem excessivamente ativos e possivelmente causassem a saída contínua de sinais excitatórios para o sistema córtico-espinhal de controle motor. Estes sinais poderiam certamente hiperexcitar muitos músculos do corpo, ou todos eles, levando assim à rigidez. Alguns desses circuitos de feedback poderiam facilmente oscilar por causa dos altos ganhos de feedback depois da perda de sua inibição, levando ao tremor da doença de Parkinson. Este tremor é bem diferente do tremor da doença cerebelar porque ocorre durante todas as horas de vigília e é, portanto, chamado de tremor involuntário, em contraste com o tremor cerebelar, que ocorre apenas quando a pessoa executa movimentos intencionalmente iniciados, sendo por isso chamado de tremor de intenção. A acinesia que ocorre na DP é freqüentemente muito mais incômoda ao paciente que os sintomas da rigidez muscular e o tremor, porque para executar mesmo o mais simples do movimento do parkinsonismo grave, a pessoa tem que exercer o mais alto grau de concentração. Então, quando o movimento ocorre, este é geralmente duro e fragmentado, em vez de ocorrer suavemente. O surgimento dos primeiros sinais e sintomas só acontece quando há uma perda de 70% dos neur6onios da substância negra.

Ao longo dos anos o parkinsonismo estende-se para o membro inferior homolateral e, posteriormente para o hemicorpo contralateral. Nesta fase tornem-se evidentes ou se acentuam alterações de fala e da marcha e começa a manifestar-se a instabilidade postural. Em fases mais avançadas da DP há acentuada limitação do desempenho motor determinando graus variáveis de dependência para alimentação, vestir-se e higiene. Distúrbios autonômicos, principalmente obstipação intestinal são comuns, embora de gravidade limitada. Depressão ocorre em cerca de 40% dos casos e pode instalar-se em fases iniciais da DP. Demência pode ser observada em 15 a 20% dos casos, mas é manifestação geralmente tardia da doença.

No exame microscópico há uma forte relação da DP com a presença dos corpos de Lewy nos neurônios restantes.

São vários os tratamentos utilizados: L-Dopa – precursor imediato da dopamina, capaz de atravessar a barreira hemato-encefálica; L-Deprenyl – inibe a monoaminoxidase que é responsável pela destruição da maior parte da dopamina depois que ela é secretada, portanto, qualquer quantidade de dopamina que seja liberada permanece nos tecidos dos gânglios da base por um tempo maior, transplante de células dopaminérgicas fetais; destruição de parte dos circuitos de feedback nos gânglios da base. A L-Dopa geralmente melhora muitos dos sintomas, especialmente a rigidez e a acinesia. O tratamento, no entanto, não reverte o as lesões morfológicas da doença e com o passar do tempo a terapia feita com drogas tem menos resultado e os sintomas ficam mais difíceis de se controlar.

TUMOR DA GLÂNDULA PINEAL

Compressão dos colículos podendo causar a perda da capacidade de mover os olhos no sentido vertical, voluntária ou reflexamente.

LESÕES DO NERVO OCULOMOTOR 

Segue os seguintes sintomas: impossibilidade de mover o bulbo ocular para cima, para baixo ou em direção medial ou por paralisia dos músculos retos superior, inferior e medial; diplopia; desvio do bulbo ocular em direção lateral (estrabismo divergente), por ação do músculo reto lateral não contrabalançada pelo medial, o que impossibilita também a abertura voluntária da pálpebra; midríase por ação do músculo dilatador da pupila (inervada pelo SN Simpático), não antagonizada pelo constrictor da pupila cuja inervação parassimpática foi lesada.

LESÕES DOS LEMNISCOS MEDIAL, ESPINHAL E TRIGEMINAL

Anestesia da metade oposta do corpo, inclusive da cabeça, esta última causada por lesão do lemnisco trigeminal.

LESÃO DO NÚCLEO RUBRO

Tremores e movimentos anormais do lado oposto à lesão.

Referências Bibliográficas

1. Neuroanatomia Funcional; Angelo Machado; segunda edição; editora atheneu; 2000





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